But i try..
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
[..] Solte as rédeas dos teus olhos
[…] e as pombas do meu quintal eram livres de voar, partiam para longos passeios, mas voltavam sempre, pois não era mais do que amor o que eu tinha e o que eu queria delas, e voavam para bem longe e eu as reconhecia nos telhados das casas mais distantes entre o bando de pombas desafetas; que eu acreditava um dia trazer também pro meu quintal […]
..o tempo, o tempo, esse algoz às vezes suave, às vezes mais terrível, demônio absoluto conferindo qualidade a todas as coisas, é ele ainda hoje e sempre quem decide e por isso a quem me curvo cheio de medo e erguido em suspense me perguntando qual o momento, o momento preciso da transposição? que instante, que instante terrível é esse que marca o salto? que massa de vento, que fundo de espaço concorrem para levar ao limite? o limite em que as coisas já desprovidas de vibração deixam de ser simplesmente vida na corrente do dia-a-dia para ser vida nos subterrâneos da memória;"
[..] Solte as rédeas dos teus olhos.
Raduan Nassar - Lavoura Arcaica
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