But i try..

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quinta-feira, 29 de maio de 2014



" A linguagem é o meu esforço humano. 
Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas.. volto com o indizível.



terça-feira, 6 de maio de 2014

Folha 21.

Eu vi,
Eu vi um Zepellin, eu deveria ter nesta época uns cinco ou seis anos, comia balas 7 belos, deixava feliz aquele pirocóptero de girar com as mãos cair em cima do telhado, comprava sonhos na padaria com a Eliana e metíamos o pé na lama.

Taí, João de Barro
era o nome do primeiro bairro de onde tenho as primeiras lembranças desta vida, bairro; se é que podia se chamar aquele amontoado de casas novas sendo construidas, terrenos sem cerca, crianças correndo soltas, pulando buracos, valetas, jogando futebol, bolitas, tacos, peão, empinando pipas em meio de muito barro vermelho e sacolas plásticas nos pés. Ah tinham as mães solteiras com filhos, tentando construir sua historia. (ou reconstruir.) Ali, naquele pequeno bairro que se formava, eu teria as mais belas historias pra contar.
Ali, eu começo a me lembrar da pequenina grande-mulher que me deu a vida. minha mãe.

Susete, era o nome dela.
Escrevia ainda com nome de solteira, tinha letra bonita (das de médica) daquelas indecifráveis. (Ela e a letra.) 6hrs da manhã, pulo da cama, beijo na gata Mimi, veste aquele blusão azul com boneco colorido estampado, a estampa era de tecido aveludado já a lã era azul, azul-celeste.
Salto na garupa da calói, e lá vamos nós; tchau até logo Mimi.
Vento no cabelo e algumas canções cantaroladas pelo caminho acompanhadas sempre por ela, naquela pressa mais suave da manhã corríamos entre buracos e esquinas, avenidas.. eu colava meu rosto em suas costas e apertava com meus braços pequenos sua cintura, fechava meus olhos e ali mesmo voava (ou dormia) naquela época, com a mente aventureira pensava eu que existiam sim, carros voadores. (como aqueles dos filmes do De Volta para O Futuro).

Café com leite, bolacha maria, colchonete, hora pra dormir, hora pra andar de balanço, hora do conto e pular na cama de mola, de montar castelinho (aqueles de tijolinho ou cubos de madeira)  sujar as mãos, mexer com abelhas, ter medo daquela boneca medonha sem cabelos, vacina na bunda, palhaço, choro, muito choro, CRÉCHE.

Lá no João de Barro, tinha a dona Maria fazia sua feijoada no fogão a lenha o seu João escutava seu programa diario (naquele radio-relogio) sempre fumando seu velho e bom palheiro. sempre dando aqueles bons conselhos:

_ Não pode engolir chiclé, senão gruda nas tripa ( e faz mal pro coração)
_ Coloca um chinelo nos pé, se não vai pegar uma friagem!
_ Não pode misturar melância com leite. Nem tomar banho depois de comer.

A mãe batia na porta, (abre a tramela!)
Já era hora, já era hora. Cansada, abatida, depois do trabalho integral nas casas, nos predios, nos bairros de cima. Já era hora, comida na mesa, alguma revistinha de pintar, cafuné e cama pra mim.
Já quase adormecendo, fechando meus olhos sonolentos ainda guardo em minha memoria, imagens daquela mulher de 23 anos, soltando seus cabelos negros em frente ao espelho e cantando musicas do cantor que ela mais gostava:

"Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder

Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo..


 ..escrevia, como estou te escrevendo agora.
as dela eram letras apressadas, eu criança não compreendia mas costumava pegar alguma caneta e fascinado já queria ter diálogos com a letra. Circulava, subia e descia lombas tremidas. Não sabia, mas já estava sendo.

Hoje sei que nas letras tortas, existe algo.
pra mim eram apenas montanhas, desenhos circulares no canto das folhas, âncoras, homem de óculos e cabelos encaracolados, rabiscos fortes e folhas amassadas.
Penso como transbordar-se e depois recompor-se do que foi esvaziado.
Ou seriam tolices que não foram ditas?

_ Já disse, minha mãe é indecifrável.








quinta-feira, 1 de maio de 2014

Folha 20.

Eu sou a sopa que pousou na sua mosca
sou a pedra e as ataduras em teus sapatos

sou aquele que invade seu roteiro e mexe na sua sinopse
aquele que aplaude em pé observando a beleza, sou ladrão de olhos, de loucos, de bobos
sou aquele que pega pela tua mão-elastica e enrolo-me todo
pego tua estrada e me perco em teus cachos, tuas orelhas, tuas estrelas, tuas marias, tuas joanas, teus cruzeiros em terras desconhecidas, tuas girafas ligo
arranho, mordo e arranco pedaços de teu doce, roubo tua mais bela flor
e enfeito meus cabelos, te bebo inteiro, te fumo inteiro, te danço inteiro,
te trago, te tramo, te temo, te solto, te perco, te acho, te tenho. observo teu passaro de penas coloridas voar proximo de minhas arvores, de meus bosques escondidos atras daquela neblina do pensamento, meu reino invisivel de terras umidas, ar freco e folhas de amoras, florece. sou o lobo que uiva, a coruja em tua janela
a flor no teu criado mudo, a água que te rega, a frase escrita perdida
dentro daquela pagina
lida
mas não dita
maldita

preciso de uma colher, já cansei de comer sopa com garfo

Folha 19.

Sonâmbulo Sonâmbulo,
Que voz é essa?
porque é que este gemido me acompanha?
Até que dia vou me intoxicar com aroma de paixões ardentes destas serpentes
Até que dia vou viver nesta Sodoma,
margaridas e lírios florecem
Me entorpeço inteiro

Contemplo reflexo de mim, no observatório em que me encontro neste quadrado gelado
colo meu rosto no espelho, degenerado conto a mim mesmo: ____________


Observo a aranha descendo da lâmpada, tecendo sua linha fina de sua próprias entranhas
e eu sou o perigo
e eu sou o perigo

A luz do quarto escurece. vem a mim imaginações dementes
Desfaço os lençois. Choro e quero beber de minha água.
Me ensopo! abro a janela deleito me na tua lua. Me enrolo em tapete de estrelas


Outra vez terei que sacrificar-me, para não haver mais suspeitas.