But i try..

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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

12 de agosto de 2045

Eu li uma vez que sonhos se chamam sonhos por que não são realidade. Li também que o ultimo eclipse solar no brasil foi em 3 de novembro de 1994. Acontece que hoje, pegando um livro empoeirado da estante, encontrei uma foto, era uma foto minha de quando era criança, nela eu usava um blusão azul de lã, estampava um palhacinho bordado de olhos tristes. Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada a minha, olhando essa minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo a noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando de trás das janelas, vendo o que ninguém mais veria. O nosso próximo eclipse vai ser em 12 de agosto de 2045. O que mais eu vou encontrar na poeira dos dias de lá? Preciso de um óculos escuro.


sábado, 19 de agosto de 2017

Sobre cortinas cinzas, sonhos e pilulas.

Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o quanto já estava dentro do que não suspeitava. E a tal ponto que tive a certeza súbita que não conseguiria mais sair. É, alguns costumam dizer e anotar em cadernos em uma sala de consultório, com uma vista para uma cidade cinza, chamada porto alegre, que é fase, e vai passar.. É, continuo não dormindo cedo, continuo abrindo a geladeira sem pensar, continuo fazendo chás quentes de madrugada, continuo fumando muito agora mais do que antes, a moça das cortinas cinzas disse que não deveria misturar remédios, mas o vinho continua sendo meu amigo. É, eu continuo rabiscando as paredes, chorando no box, escrevendo coisas que nunca serão ditas, talvez nem lidas, continuo sentando na minha janela e conversando com a lua. A moça que anota coisas, me disse que os remédios tem efeitos colaterais, bem que eu percebi em uma dessas conversas na janela recebi uma visita. Eu tenho tido um sonho bom, e nele eu visto preto. eu corro para um lugar tipo Grand Canyon em Arizona, tem um balão me esperando lá. Aí eu acordo, vejo a primeira poeirinha do sol querendo entrar pela janela, e tudo o que eu quero é voltar para o sonho. eu poderia viver lá dentro. I want to hold the hand inside you, mazzy star canta pra mim. Mais uma pilula, e as pupilas dilatam para realidade cruel, dolorosa, atroz, lancinante, pungente, cruciante e torturante que é viver nos tempos atuais. Preciso dar um jeito nesse negócio que é: sentir.